segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Antônia - amor eterno

"- Também te amo minha neta, vou ficar bem logo."

Essas foram as últimas palavras que escutei vindas da minha querida vózinha, que hoje está pegando um sol junto com seu amigo Deus lá em cima. Devem tá fazendo a maior festa!
Enquanto isso fica esse vazio aqui embaixo, uma sensação estranha dentro do peito, um pensamento vago, que ainda não assimilou por completo que ela se foi pra nunca mais voltar.
A única certeza de que um dia nos reencontraremos no céu, pensamento reconfortante saber que quando for a minha vez, não estarei sozinha por lá, pois ela irá me receber com aquele sorriso aberto, olhos alegres que expressam todo o amor quando veem você chegar. Perdi o medo da morte por causa disso, ela vai tá lá pra me receber como alguém que te recebe em casa em dia de festa, toda linda, braços abertos loucos pra te agarrar e te beijar carinhosamente, passar a mão entre os teus cabelos e dizer que estais linda como sempre.
Não lembro de ver a minha vó triste, era sempre pra cima, bem humorada, nem mesmo quando tava doente. Nunca sentia dor, nunca precisava de nada, não fazia mãnha de jeito nenhum. O último dia não foi diferente.
Parecia que sabia que era o último. Não, tenho certeza que ela sabia. Esperou e se despediu de todos, fui a última a chegar na sua casa pra dizer até logo. Trinta minutos depois que eu parti da casa, ela também se foi pra sempre. Não vou esquecer nunca os últimos momentos, que apesar de vê-la sofrendo (ela dizendo que tava tudo bem, como sempre), respirando mal, suando aos píncaros, ar-condicionado ligado no máximo do frio, eu congelando e ela toda molhada. Só pedia pra eu abanar mais um pouco. Mal conversamos, ela balbuciava "Me leva, me leva, me leva logo". Tenho certeza que não estávamos sozinhas naquele quarto gelado. O que faz desse momento, um momento especial pra mim. Não de tristeza, mas sim de alegria por saber que "Ele" estava ao meu lado também, e que de certa forma me tirou do quarto pra não vê-la deixar o corpo material. Essa sensação também me conforta. Vê-la "dormindo" no caixão também não foi tão dolorido, ela estava linda, a face refletia paz. Os olhos calmos. As mãos frias seguravam dois terços, parecia mesmo que estava a dormir. Muitas vezes a olhei e achei ter visto seu abdome respirar, parecia que ia acordar a qualquer momento. Muito choro. Demais. Cada música cantada pelos seus amigos do grupo de irmãos iniciava uma nova enchurrada de lágrimas por nós, filhos e netos. Eu já não sabia se consolava ou se era consolada. O único que não chorou foi o Dudu, bebezinho de 7 meses que se comportou muito bem num ambiente tão triste. A cerimônia foi bonita, desmistificando o meu medo desse tipo de lugar. Afinal, era a minha vózinha que estava lá, eu tinha que participar do seu último momento entre nós, corpo material, aqui na terra. Porque ela estará pra sempre comigo, no meu coração, nos meus pensamentos, nas toalhas bordadas que ela me deu, nas fotos das festas que participamos... foi-se apenas o corpo, a alma está a nossa volta, e com certeza ela está olhando por todos nós agora, como boa matriarca da família. Minhas últimas palavras foram:

"- Vó, te amo muito, fica bem."